O Observatório da Imprensa na TV exibiu [uma] série de três programas sobre os impactos da vinda da família Real para o Brasil, ocorrida em 1808. O foco do debate foi a conjuntura que levou o país a um atraso de mais de três séculos em relação ao início da impressão industrial de textos, datada de 1456, quando Johann Gutenberg confeccionou a Bíblia de Mogúncia. Outras colônias na América, como México e Peru fundaram suas primeiras tipografias séculos antes do Brasil, que só decretou a implantação da Impressão Régia em 13 de maio de 1808. Participaram do programa Isabel Lustosa, historiadora da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, e o jornalista e escritor Laurentino Gomes, em São Paulo. (...)
O jornalista [Alberto Dines] comentou ainda o papel da inquisição neste atraso [do começo da imprensa no Brasil]. Naquela época, explicou Dines, era preciso um licenciamento. O controle era exercido no início do processo pelo Santo Ofício da Igreja Católica. O órgão da igreja operava aqui através de comissários que davam informações à Coroa portuguesa e obedeciam às ordens de Lisboa. Já a coroa espanhola criou no Novo Mundo vários tribunais, descentralizando a fiscalização. A medida tornou possível execuções de condenados, mas contribuiu para que suas colônias pudessem fundar tipografias muito antes do Brasil (as primeiras impressões na América seguiram a seguinte ordem: Cidade do México, 1535; Lima, 1583; EUA, 1640; Bogotá, 1739; Santiago, 1748; Quito, 1760; Nova Orleans (Espanha), 1764; Buenos Aires, 1766; e Montevidéu, 1807).
Dines comentou que um estudo pouco conhecido aponta que a implantação da tipografia poderia ter sido antecipada em mais de 60 anos. Em 1749, Antônio Isidoro da Fonseca – que foi um dos doze tipógrafos mais importantes de Lisboa, tendo publicado a Biblioteca Lusitana, o primeiro compêndio das obras escritas em Portugal – tentou estabelecer uma tipografia no Rio de Janeiro. Após publicar alguns folhetos, foi surpreendido com uma intimação que o obrigou a fechar a gráfica porque contrariava às ordens de Lisboa. (...)
Dines perguntou a Laurentino Gomes como a corte [portuguesa] formou sua cultura se a impressão não era permitida no Brasil e, em Portugal, ainda era controlada. O autor de 1808 disse que a antiga metrópole era um dos países mais atrasados da Europa. O espírito aventureiro e de conquistas que havia marcado a época das navegações e das grandes descobertas havia desaparecido com o início do reinado de D. Maria I, extremamente ligada à Igreja Católica. Portugal foi o último país a abolir a inquisição, havia um controle absoluto das idéias. (...)
Os prejuízos causados pela inquisição no Brasil, para Alberto Dines, não podem ser medidos, são incalculáveis. Entre 1536, quando foi instalada na metrópole, até 1821, quando foi abolida pela Constituição de Portugal, esteve presente no Brasil através do controle de livros. As obras que vinham de Lisboa eram examinadas no cais. “Tudo isso tinha um ônus tremendo, as idéias não podiam circular”, avaliou. Os contrabandos e relatos de estrangeiros eram as alternativas encontradas pelos brasileiros para ter acesso à cultura e à informação livre.
No encerramento do debate, Laurentino Gomes disse que o Brasil pode comemorar o aniversário em 1808, apesar de ter sido descoberto em 1500. Para ele, nenhum outro período na história do Brasil passou por transformações tão profundas. Deixou de ser uma sociedade atrasada, ignorante e proibida. Isabel Lustosa reafirmou que o cerceamento à informação foi extremamente prejudicial, mas que quando a impressão foi liberada foi fundamental para a formação de uma classe política.
(Lilia Diniz, Observatório da Imprensa)
O jornalista [Alberto Dines] comentou ainda o papel da inquisição neste atraso [do começo da imprensa no Brasil]. Naquela época, explicou Dines, era preciso um licenciamento. O controle era exercido no início do processo pelo Santo Ofício da Igreja Católica. O órgão da igreja operava aqui através de comissários que davam informações à Coroa portuguesa e obedeciam às ordens de Lisboa. Já a coroa espanhola criou no Novo Mundo vários tribunais, descentralizando a fiscalização. A medida tornou possível execuções de condenados, mas contribuiu para que suas colônias pudessem fundar tipografias muito antes do Brasil (as primeiras impressões na América seguiram a seguinte ordem: Cidade do México, 1535; Lima, 1583; EUA, 1640; Bogotá, 1739; Santiago, 1748; Quito, 1760; Nova Orleans (Espanha), 1764; Buenos Aires, 1766; e Montevidéu, 1807).
Dines comentou que um estudo pouco conhecido aponta que a implantação da tipografia poderia ter sido antecipada em mais de 60 anos. Em 1749, Antônio Isidoro da Fonseca – que foi um dos doze tipógrafos mais importantes de Lisboa, tendo publicado a Biblioteca Lusitana, o primeiro compêndio das obras escritas em Portugal – tentou estabelecer uma tipografia no Rio de Janeiro. Após publicar alguns folhetos, foi surpreendido com uma intimação que o obrigou a fechar a gráfica porque contrariava às ordens de Lisboa. (...)
Dines perguntou a Laurentino Gomes como a corte [portuguesa] formou sua cultura se a impressão não era permitida no Brasil e, em Portugal, ainda era controlada. O autor de 1808 disse que a antiga metrópole era um dos países mais atrasados da Europa. O espírito aventureiro e de conquistas que havia marcado a época das navegações e das grandes descobertas havia desaparecido com o início do reinado de D. Maria I, extremamente ligada à Igreja Católica. Portugal foi o último país a abolir a inquisição, havia um controle absoluto das idéias. (...)
Os prejuízos causados pela inquisição no Brasil, para Alberto Dines, não podem ser medidos, são incalculáveis. Entre 1536, quando foi instalada na metrópole, até 1821, quando foi abolida pela Constituição de Portugal, esteve presente no Brasil através do controle de livros. As obras que vinham de Lisboa eram examinadas no cais. “Tudo isso tinha um ônus tremendo, as idéias não podiam circular”, avaliou. Os contrabandos e relatos de estrangeiros eram as alternativas encontradas pelos brasileiros para ter acesso à cultura e à informação livre.
No encerramento do debate, Laurentino Gomes disse que o Brasil pode comemorar o aniversário em 1808, apesar de ter sido descoberto em 1500. Para ele, nenhum outro período na história do Brasil passou por transformações tão profundas. Deixou de ser uma sociedade atrasada, ignorante e proibida. Isabel Lustosa reafirmou que o cerceamento à informação foi extremamente prejudicial, mas que quando a impressão foi liberada foi fundamental para a formação de uma classe política.
(Lilia Diniz, Observatório da Imprensa)
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