quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Culpa

Casa Publicadora Brasileira – Lição 512011

Verso para Memorizar: “Se Tu, soberano Senhor, registrasses os pecados, quem escaparia? Mas contigo está o perdão para que sejas temido” (Salmo 130:3, 4, NVI).


Leituras da semana: Gn 3:8-13; 1Jo 1:9; Sl 32; 1Tm 4:1, 2; Mt 26:75; Rm 8:1

O senso de culpa é uma das experiências emocionais mais dolorosas e incapacitadoras. Pode provocar vergonha, medo, tristeza, raiva, angústia e até enfermidade física. Embora frequentemente sejam desagradáveis, esses sentimentos podem ser usados por Deus para levar os pecadores ao arrependimento e ao pé da cruz, onde podem achar o perdão tão desejado. Às vezes, porém, o mecanismo da culpa faz com que as pessoas assumam a culpa por algo pelo que não são responsáveis, como no caso de alguns sobreviventes de acidentes ou filhos de pais divorciados.


Mas quando o senso de culpa é justificado, serve como boa consciência. A culpa produz desconforto suficiente para levar a pessoa a fazer algo sobre ela. Dependendo das escolhas pessoais, a culpa pode ser altamente destrutiva, como no caso de Judas, ou altamente positiva, como no caso de Pedro.


Nesta semana, vamos estudar quatro relatos bíblicos de culpa a fim de entender melhor esse processo e ver o que podemos aprender sobre ela, se for corretamente canalizada. Podemos ver como a culpa pode ser usada pelo Senhor para nosso proveito. Tudo depende, realmente, de nossa atitude em relação à culpa que sentimos e o que fazemos com ela.


Vergonha

1. Como Adão e Eva manifestaram a culpa que sentiram? Qual foi o problema com a reação de Adão? Gn 3:8-13


A culpa foi a primeira emoção adversa sentida pelos seres humanos. Logo depois que Adão e Eva pecaram, seu comportamento mudou. Eles “esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim” (v. 8. NVI). Essa reação sem precedentes indicou medo de seu Pai e Amigo e, ao mesmo tempo, vergonha de enfrentá-Lo. Até a queda, eles achavam alegria na presença de Deus, mas agora, escondiam-se ante Sua aproximação. Um bonito elo estava quebrado. Além de medo e vergonha, eles sentiam tristeza, especialmente ao serem informados das terríveis consequências de terem desobedecido a Deus.


Note as palavras de Adão e Eva: “Foi a mulher que me deste por companheira” e “A serpente me enganou...” (NVI). A culpa provoca uma reação aparentemente automática de colocá-la em outra pessoa ou justificar o próprio comportamento com argumentação. Sigmund Freud, fundador da psicanálise, chamava essa reação de “projeção” e afirmava que as pessoas projetam sua culpa sobre os outros ou sobre as circunstâncias a fim de aliviar o fardo da culpa. Essa “projeção” é considerada um mecanismo de defesa. Mas o ato de lançar a culpa sobre os outros não contribui para as relações interpessoais e constitui uma barreira para o perdão de Deus. A verdadeira solução consiste em aceitar a plena responsabilidade pelas próprias ações e buscar o único Ser que pode fornecer libertação da culpa: “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1, NVI).


Às vezes, as pessoas sofrem de culpa pelas razões erradas. Parentes próximos daqueles que cometem suicídio, sobreviventes de um grande acidente ou calamidade e filhos de um casal recém-divorciado, na maioria dos casos, são exemplos típicos de culpa infundada. As pessoas que estão nessas situações precisam ter a certeza de que não podem ser consideradas responsáveis pelo comportamento de outros ou por eventos imprevisíveis. E se, em certos casos, eles tiverem alguma culpa, devem assumir a responsabilidade por suas ações, buscar perdão daqueles a quem ofenderam e, então, apegar-se a promessas bíblicas como: “Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões” (Sl 103:12).

Como você reage à culpa? Você é rápido, como foi Adão, em culpar os outros por suas ações erradas? Como você pode aprender a fazer face às coisas que fez erradas e então, pela graça de Deus, avançar?


Angústia dos irmãos de José

2. Que lembrança particular provocadora de remorso continuava na mente dos irmãos de José? Gn 42:21. O que isso nos revela sobre eles?

A culpa está associada a uma ocorrência particular do passado, às vezes, uma imagem ou um breve evento, que tende a ser revivido mentalmente. Outras ocasiões, toma a forma de uma imagem retrospectiva que invade a mente ou aparece em sonhos ou pesadelos. A imagem do José adolescente implorando por sua vida diante de seus irmãos mais idosos deve ter assomado à mente dos filhos de Jacó vez após vez.

3. De que outra forma a culpa afetava os irmãos de José? Gn 45:3


Os que são afetados pela culpa pensam nela repetidamente, lamentando o que fizeram, mostrando medo pelas consequências e se recriminando. Essas reflexões produzem muita angústia, frustração e ira contra si mesmo por não ter agido de maneira diferente. Infelizmente, não importa quanto tempo seja dedicado a esses pensamentos, o passado permanecerá inalterado. Falta arrependimento e perdão. O nobre caráter de José emerge, no fato de que ele ofereceu perdão e encorajou seus irmãos a deixar de se zangar consigo mesmos. Ele lhes assegurou que a ocorrência dos eventos era plano de Deus para salvar muitas vidas. No entanto, o fato de que Deus pôde usar sua má ação para o bem não os isentou de um crime horrível.

4. Como a obediência ao que está nestes versos nos ajuda a lidar com a culpa? Tg 5:16; 1Jo 1:9


Todos os pecados causam dor ao pecador e a Deus. Muitos pecados envolvem também outras pessoas. Cada canto do triângulo (Deus–Outros–Eu) precisa ser trabalhado a fim de trazer uma solução para os males passados. João nos diz que Deus está preparado para perdoar e para nos purificar da injustiça.


Além disso, Tiago nos diz que devemos confessar os pecados uns aos outros; devemos fazer isso, especialmente a quem ofendemos.


Força enfraquecida

5. Leia o Salmo 32. O que aprendemos sobre culpa e confissão? O que Davi quis dizer por “calei os meus pecados”? Que acontece quando a pessoa se cala? Qual foi a solução de Davi para sua culpa?

A confissão honesta faz bem à consciência e, aparentemente, também para o corpo. A linguagem de Davi sugere claramente que seu estado mental de culpa também estava provocando dor física: “envelheceram os meus ossos” (v. 3) e “minhas forças foram-se esgotando” (v. 4, NVI). Hoje, os profissionais de saúde reconhecem a íntima relação entre o estresse psicológico e as doenças físicas. Há décadas, a expressão “doença psicossomática” tem sido parte da linguagem dos profissionais de saúde, e se refere aos sintomas físicos provocados principalmente por processos psicológicos. Mais recentemente, o campo da psiconeuroimunologia identificou o papel-chave que exercem os estados mentais na proteção do nosso corpo ou em sua exposição às doenças.


A culpa, como qualquer outra emoção adversa forte, provoca a imediata deterioração do comportamento e pode, a longo prazo, destruir a saúde física. Mas para aqueles que conhecem o Senhor, não há necessidade de colocar-se em risco. O testemunho de Davi revela o antídoto para a culpa: “Confessei-Te o meu pecado. ... e Tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (v. 5).


Assim, a vergonha, o remorso, a tristeza e a desesperança provocados pela culpa podem desaparecer pelo perdão maravilhoso do Senhor, e, em seu lugar, podem vir alegria e felicidade (v. 11).

6. Leia 1 Timóteo 4:1, 2. Que significa ter “cauterizada a própria consciência”?

Paulo advertiu Timóteo a respeito de indivíduos que ensinariam aos fiéis doutrinas estranhas. Eles fariam isso porque sua consciência estaria “morta como se tivesse sido queimada com ferro em brasa” (v. 2, NTLH). Assim como o fogo pode queimar os terminais nervosos e deixar insensíveis certas partes do corpo, a consciência também pode ser cauterizada: (a) Pela repetida violação de princípios corretos até que não sobre nenhum senso de injustiça, (b) Por fortes influências ambientais que levem a pessoa a considerar os erros com indiferença ou até como algo bom.

Existem coisas que no passado o aborreciam e que hoje não mais o perturbam? Nesse caso, isso pode ser uma consciência cauterizada em ação? Tente pensar nas coisas que você faz e que não aborrecem sua consciência, mas que talvez devessem incomodá-lo.


Pranto doloroso

7. O que tornou tão grande o senso de culpa de Pedro? Você já teve uma experiência semelhante? Nesse caso, o que você aprendeu dela que poderia levá-lo a evitar cometer um engano semelhante? Mt 26:75


Em duas ocasiões, Pedro declarou a intenção de ser firme e nunca negar o Mestre. Sua segunda afirmação foi dada mesmo depois que o Senhor predisse que ele O negaria três vezes naquela mesma noite. Horas mais tarde, duas mulheres identificaram Pedro como um dos discípulos de Jesus, e ele negou o Senhor mais uma vez. Então, um grupo de servos da casa do sumo sacerdote o identificou, e ele exclamou: “Não sou” (Jo 18:25). Note que os acusadores (menores, mulheres, servos) eram considerados de baixa posição social. Mais tarde, isso deve ter aumentado a vergonha e a culpa de Pedro.


O ponto crucial, porém, é que o pranto de Pedro o levou ao arrependimento, à mudança de coração e à verdadeira conversão, embora o processo em si tenha sido doloroso. Às vezes, é isso que nos falta: precisamos nos ver como realmente somos, ver o que realmente está em nosso coração, e como somos capazes de demonstrar deslealdade – e então, cair, quebrados como Pedro, diante do Senhor.


“Com lágrimas que o cegavam, abriu caminho para a solidão do Jardim do Getsêmani e lá se prostrou onde vira seu Salvador prostrado quando o suor de sangue vertia de Seus poros por causa de Sua grande agonia. Pedro se lembrou com remorso de que dormia quando Jesus orava durante aquelas horas horríveis. Seu coração orgulhoso se partiu, e lágrimas penitenciais molharam o solo recentemente manchado com as gotas de suor sangrento do querido Filho de Deus. Um homem convertido deixou o jardim. Estava pronto, então, para se condoer dos que são tentados. Ele tinha humilhado e podia simpatizar-se com os fracos e com os que erram” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 416).


A primeira metade do livro de Atos provê um testemunho inquestionável da transformação de Pedro. Sua pregação e liderança e seus atos miraculosos foram extraordinários e levaram à salvação de muitos. Seu trabalho também levou à fundação da igreja como corpo de Cristo. Sua morte, predita por Jesus em João 21:18, foi recebida como uma honra, pois ele morreu da mesma forma que seu Mestre.

Suas quedas e fracassos o tornaram mais sensível às quedas e fracassos de outros? Como sua angústia pode ajudá-lo a ministrar a outros em suas aflições?


Perdão total

8. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” (Rm 8:1, ARC). O que este texto promete? Como podemos nos valer dessa promessa?


O perdão de Deus é tão grande, tão profundo e tão amplo que é impossível entendê-lo completamente. Nem mesmo a melhor qualidade de perdão humano pode ser comparada com o de Deus. Ele é tão perfeito, e nós somos tão falhos! Mas, pela provisão que o próprio Deus fez em Jesus, todos podemos ter pleno e completo perdão no momento em que reclamarmos as promessas mediante plena entrega ao Senhor.

9. Leia os três textos abaixo. Como eles nos ajudam a entender o perdão de Deus?
a) Sl 103:12
b) Is 1:18
c) Mq 7:19

A Bíblia usa alegorias do reino concreto e familiar a fim de nos ajudar a entender o significado de conceitos difíceis. Até onde podemos perceber, a neve e a lã são bons exemplos de brancura; as profundezas do mar estão entre os lugares mais profundos que podemos imaginar; e nada pode estar geograficamente mais distante e separado que o leste do oeste. Mas essas são alegorias limitadas do perdão de Deus. Na Abadia de Elstow, um vitral colorido retrata uma imagem inspirada em O Progresso do Peregrino, de John Bunyan. Cristão, o personagem central, pode ser visto ajoelhado ao pé da cruz. Seu fardo pesado de culpa desaparece de seus ombros, trazendo alívio incomparável a seu coração.


Cristão diz: “Não o vi mais.” O fardo se foi. Dor, remorso, ansiedade e vergonha desapareceram para sempre. Por causa de nossa imperfeição, egoísmo e relacionamentos defeituosos, é muito difícil entendermos o perdão perfeito e total de Deus. Simplesmente podemos aceitá-lo pela fé e orar: “Senhor, humildemente confesso a Ti meus pecados e aceito Teu perdão e purificação. Amém”!

Como podemos estar certos de que nossos pecados foram perdoados se não sentimos assim? Que razões temos para crer que fomos perdoados, apesar de nossos sentimento


Estudo adicional

Quando o pecado luta pelo domínio do coração humano, quando a culpa parece nos oprimir e sobrecarregar a consciência, quando a incredulidade anuvia a mente, quem faz entrarem os raios de luz? De quem é a graça suficiente para subjugar o pecado, e quem dá o precioso perdão a todos os nossos pecados, expulsando as trevas e nos tornando esperançosos e alegres em Deus? – Jesus, o Salvador que perdoa os pecados. Ele ainda é nosso advogado nas cortes do Céu; e aqueles que tiveram a vida escondida com Cristo em Deus devem se erguer e brilhar, porque a glória do Senhor nasceu sobre eles” (Ellen G. White, Bible Training School, maio de 1915).


“Se você ofendeu um amigo ou vizinho, deve reconhecer sua culpa e é dever dele perdoar plenamente. Então, você deve buscar o perdão de Deus, porque o irmão a quem feriu é propriedade de Deus e, ofendendo-o, você pecou contra seu Criador” (Ellen G. White, A Fé Pela Qual eu Vivo [MM 1959], p. 128).

Perguntas para reflexão

1. Madame Mao, esposa de Mao Tse-Tung, antigo líder da China comunista, vivia com medo e culpa constantes, tudo por causa de muitas coisas ruins que havia feito. Ela era tão paranoica, de fato, tão cheia de culpa que qualquer ruído súbito, qualquer som inesperado, causava suores frios ou a deixava enfurecida. Esse estado era tão ruim que ela exigia que seus criados mantivessem os pássaros longe de sua propriedade para que ela não tivesse que ouvi-los cantando. Embora seja esse um caso extremo, o que esse fato nos diz sobre o poder da culpa para arruinar nossa vida?
2. Que conselho você daria a alguém que tivesse problemas com a culpa por pecados passados, que afirme ter aceitado Cristo mas ainda não conseguiu se livrar dos sentimentos de culpa? Como você ajudaria essa pessoa?
3. Em um mundo em que não existisse Deus, a culpa poderia existir? Comente sua resposta.

Respostas sugestivas:
Pergunta 1: Fugiram e se esconderam de Deus. Não há como fazer isso.
Pergunta 2: Eles haviam vendido o próprio irmão à escravidão.
Pergunta 3: Haviam enganado e entristecido seu pai.
Pergunta 4: A confissão e a certeza do perdão removem o fardo da culpa.
Pergunta 5: A confissão liberta da culpa e traz alívio e alegria.
Pergunta 6: Endurecer a consciência mediante a repetida transgressão.
Pergunta 7: Ele se havia jactado de que não cairia, Jesus o havia advertido, mas ele não acreditou nisso. Reconheceu sua fragilidade humana.
Pergunta 8: Livres da condenação, temos paz com Deus e com nossos semelhantes.
Pergunta 9: O perdão de Deus é total e completo.

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