quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sufocando a voz de Deus

Bem-vindo ao novo reality-show da televisão brasileira: 24 Horas Com o Profeta! Durante nossos próximos programas, estaremos acompanhando cada momento do dia de um servo de Deus. Ele se encontra confinado em sua caverna, onde estão instaladas dez câmeras, para não perdemos nada - desde o momento em que ele lava a longa barba num lago, pela manhã, até quando tem suas visões espetaculares.

Parece justamente que agora, neste instante, novos participantes estão entrando na casa. Vamos acompanhar isto de perto: "E ele lhes disse: Passai aqui esta noite, e vos trarei a resposta, como o Senhor me falar; então, os príncipes dos moabitas ficaram com Balãao" (Nm 22:8).

Pouco antes, o povo de Israel avançava vitoriosamente em direção às planícies de Moabe. Não muito longe do local da batalha, Balaque, um rei moabita, acompanhava a cobertura completa do evento pela TV a cabo. E o que viu não lhe deixou satisfeito. Uma rápida consulta ao mapa da região indicava que a próxima rota por onde o exército israelita passaria era justamente a sua terra! Champlin comenta um pouco sobre como as notícias devem ter chegado ao temeroso Balaque:

"Embora os antigos não dispusessem de meios de comunicação em massa, eles contavam com rotas comerciais, espiões e mensageiros. E assim as notícias varavam distâncias com bastante rapidez. A matança sofrida pelos amorreus chamou a atenção de Balaque."

Eis a pior notícia que Balaque poderia receber: Israel era um povo que tinha uma sombra de quarenta anos de vitória quando chegou à planície de Moabe!

A liga extraordinária

Mais do que depressa, Balaque formou uma liga Moabe-Midiã para enfrentar aquele desafio (v.4). Depois de alguma burocracia, os representantes de ambos os lados chegaram a um consenso sobre o que fazer:

"Enviou ele [Balaque] mensageiros a Balaão, filho de Beor, a Petor, que está junto ao rio Eufrates, na terra dos filhos do seu povo, a chamá-lo, dizendo: Eis que um povo saiu do Egito, cobre a face da terra e está morando defronte de mim. Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois é mais poderoso do que eu; para ver se o poderei ferir e lançar da terra, porque sei que a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado" (Nm 22:5, 6).

Para Balaque e seus aliados, a única forma de conter o avanço do povo santo era amaldiçoá-lo. Para o serviço, ele tinha o homem certo: Balaão. Esperando que o encantador de aluguel cumprisse com o esperado, o rei Balaque assinou um cheque para o "preço dos encantamentos" (Nm 22:7).

E é justamente aí nesse ponto que começamos! Neste exato momento, os emissários de Balaque estão entrando na escura caverna de uma personalidade curiosa; estamos falando de um homem que apesar de falar com Deus será pago para amaldiçoar o povo de Deus!

Ao receber a comissão de Balaque, Balaão exibe suas qualificações profissionais. Seus ouvidos escutam avidamente a proposta e seus olhos erguem-se diante do brilho das joias preciosas. Mas há um detalhe: Balaão não é um embusteiro - não, senhor! Ali estava alguém que, de fato, tinha conhecimento (ao menos parcial) sobre o Deus verdadeiro. Balaão sabe que terá de levar o assunto ao Senhor antes de assinar o contrato.

Esta é uma daquelas ocasiões solenes com as quais a Palavra de Deus nos brinda: um homem irá conversar com o Todo-Poderoso. Não tenho dúvidas de que Deus ainda continua falando a nós hoje - apenas as formas de Se comunicar conosco mudaram. Se é verdade que ganhamos toda vez em que paramos para ouvir a voz do Senhor, também é verdade que ganhamos igualmente ao considerar o que Deus comunicou a outras pessoas e está conservado nas Sagradas Escrituras.

Acompanhe comigo esse diálogo. Tenho certeza de que as frases divinas continuam capazes de inspirar muitas reflexões, como fizeram com Balaão.

Três recados importantes

Embora a oferta fosse muito atraente, Balaão não estava disposto a aceitá-la antes de consultar a Deus. Por isso, os mensageiros de Balaque foram obrigados a passar aquela noite com o profeta. Somente pela manhã, Balaão lhes daria uma reposta. Naquela mesma noite, a Bíblia afirma que "veio Deus a Balaão e disse: Quem são estes homens contigo?" (Nm 22:9).

Você não acha isso curioso? Por que um Deus que sabe de todas as coisas teria necessidade de pedir informação a respeito de alguém? O Senhor realmente precisava que Balaão lhe explicasse quem eram seus hóspedes? Penso que não. Aquilo era apenas uma antiga estratégia divina.

Tome como exemplo a queda do homem. Ao pecar, Adão corre para detrás de um arbusto. Passeando pelo jardim do Éden, na "viração do dia", Deus Se dirige à Sua criatura: "Ei, Adão! Pode parar de se esconder, seu rebelde! Já o achei, e agora vamos conversar sobre o que você fez." É assim que está escrito na sua Bíblia? Ah, é claro que não!

Quando o homem pecou, a primeira coisa que Deus lhe disse foi "Onde estás?" (Gn 3:9). Desde então, parece que Deus tem usado de perguntas, mesmo quando conhece as respostas. Por meio de perguntas, o Criador dá a oportunidade para que a criatura reflita em suas ações.

Num outro diálogo famoso, Deus pergunta a Caim a razão para o semblante dele estar alterado (Gn 4:6), ainda que conhecesse o ódio que ele nutria pelo irmão Abel.

Para o profeta desanimado, Deus dirige uma pergunta incisiva: "Que fazes aqui, Elias?" (1Rs 19:13). Perguntar sempre fez parte da estratégia divina para alcançar o homem.

"Quem são estes homens contigo, Balaão? Com que tipo de gente você está andando? A que influências você está se expondo?" Deus nos ama tanto que, ainda hoje, tem Se preocupado quando damos a algo que nos afasta dEle permissão para entrar em nossa mente.

É comum que em nosso meio social estejamos em contato com pessoas que não respeitam a Deus e aos Seus mandamentos. Isso não pode ser desconsiderado. "As más conversações corrompem os bons costumes", dizia o apóstolo.

Os ambientes que frequentamos, a literatura que escolhemos, os programas televisivos a que assistimos, os sites nos quais navegamos - todas essas coisas exercem influência sobre nós, seja em maior ou menor grau.

Você não pode decidir como determinado hábito irá afetar a sua vida - mas pode decidir se quer ou não manter tal hábito. Se, por exemplo, certo tipo de música não vem contribuindo para o seu crescimento espiritual, você não poderá lutar contra os efeitos dela sobre a mente enquanto persistir em escutá-la. Parar de ouvi-la é bem mais fácil!

Você pode até pensar: "Mas o que posso fazer quando aquilo que me rodeia me sugere pensamentos impróprios e eu não vejo um jeito para evitá-los?"; "Como escapar da influência mundana, quando sou o único cristão no meu ambiente de trabalho?"; "É possível resistir à sensualidade em meio a um campus universitário?"

A Bíblia nos ensina a não fazer nenhuma associação deliberada com algo ou alguém que possa nos afastar de Deus. Mas, ao mesmo tempo, Deus nos assegura graça especial para resistirmos à tentação. O que Deus não faz é conceder auxílio para aquele que por sua própria conta e risco se expõe ao mal, conhecendo o risco de se afastar dEle. Justamente esse era o caso de Balaão.

Balaão tinha um discurso preparado. Sabia o que dizer para o Todo-Poderoso. Ele tentou ao máximo enrolar e desconversar. "Homens aqui na minha casa? Ah, sim, como eu pude me esquecer! Esse pessoal só está de passagem - vieram pedir para que eu amaldiçoe o Seu povo, nada demais..." Deus não "caiu na conversa".

"...não irás com eles, nem amaldiçoarás o povo; porque é povo abençoado" (Nm 22:12).

Era uma ordem: "Não, Balaão, por mais que você queira, Eu não o deixo partir." Reconhecer a Cristo como nosso Senhor engloba aceitar Seu plano específico para nós como melhor do que a nossa vontade. Deus é sempre Soberano. Quando Ele nos diz: "Ponha os pés na estrada", devemos nos apressar. Mas quando a ordem for ficar e esperar, isso é o melhor a ser feito.

Numa ocasião, eu caminhava pelas ruas de São Luís, em direção ao endereço de um pequeno grupo, quando o Senhor me falou: "Vá e ore com aquele homem." Fiquei assustado; não conhecia o homem, nem achei que poderia simplesmente dizer: "Deus me mandou aqui para orar com você." Passei reto, mas a mesma voz continuava: "Volte e ore com aquele homem." Eu voltei - perguntei as horas e fui embora sem-graça.

Mas a mesma voz persistia: "Não mandei você perguntar as horas; volte e ore com aquele homem." Pela segunda vez, voltei e tornei a conversar com aquele homem. Descobri que ele era segurança de um prédio, e evangélico. Ali mesmo, no seu lugar de trabalho, nós dois oramos. Nunca mais me encontrei com ele, mas Deus tinha os Seus motivos quando me fez parar e orar com o rapaz.

Muito a contragosto, Balaão acordou cedo e teve de despedir os porta-vozes de Balaque. Por mais que em seu coração quisesse ser um "amaldiçoador temporário", Balaão não o pôde - Deus lhe proibira. Quando sua delegação retornou sozinha, Balaque julgou que a recusa de Balaão fosse uma forma de barganhar seus préstimos.

Uma nova comitiva foi enviada - ainda mais imponente do que a primeira. O rei moabita rasgou o cheque anterior e preencheu uma nova folha, contendo algarismos bem mais atraentes. E a cena se repetiu: uma nova comissão bateu à porta do lar do profeta. Novamente Balaão, que conhecia qual era a vontade de Jeová, persistiu em seu pretexto de consultá-Lo - porém, o que o vidente queria era a Sua permissão para ir.

"Veio, pois, o Senhor a Balaão, de noite e disse-lhe: Se aqueles homens vieram chamar-te, vai com eles; todavia, farás somente o que Eu te disser" (Nm 22:20).

Da primeira vez, a voz divina emitira uma ordem direta: "Não irás!" Agora, o Senhor nem ao menos Se esforçou para convencer Balaão a não ir. Afinal, Sua vontade era bem sabida; a questão não estava no campo do conhecimento e, sim, das decisões.

Você e eu fomos feitos livres para decidir por qualquer coisa que queiramos. Algumas escolhas são mera "questão de gosto": Camisa branca ou vermelha? Férias na praia ou no campo? Pêssego ou morango? Qualquer reposta para esse tipo de pergunta afetará sua vida com menor ou maior impacto. Mas existem outras decisões que podem definir nosso relacionamento com Deus e, consequentemente, nosso destino eterno.

Nosso Senhor respeita as escolhas que fazemos, até quando são equivocadas. Nosso Pai de Amor não interfere ao ver o momento em que, a despeito da luz que temos, você e eu preferimos o prazer ao correto, o fácil ao lícito ou o popular ao justo.

Naquele instante, Balaão não estava buscando uma direção da parte de Deus, porque isso ele tinha. Seu esforço foi no sentido de convencer Deus a mudar de ideia. Seria tão bom se Deus nos ouvisse mais, não é? Como gostaríamos de ver o sinal verde para todos os nossos desejos!

Gosto de como o Senhor lida com esse impulso humano. Balaão argumentou e Deus nada Lhe acrescentou. Não se fazia necessário. Deus estava dizendo o seguinte: "Balaão, você sabe o que penso a respeito. Mas se você quer tanto ir, vá, seu teimoso! Eu não Me responsabilizo pelo que pode acontecer, porque Eu avisei você."

Deus não nos impede de pecar. Se clamamos quando tentados, temos todo auxílio celestial. O cristão jamais tem razão para se sentir desamparado. Mas, se desconsideramos a verdade conhecida e seguimos os neons do pecado, nenhum anjo segura nossos pés.

A campanhia está tocando...

Você e eu não estamos num reality show, cercados por câmeras transmitindo nossa vida em tempo real a telespectadores curiosos. Nem por isso estamos sozinhos. Há um Deus que do alto em que habita toma tempo para nos acompanhar em cada lance da jornada.

Deus não nos vigia para nos punir no primeiro erro cometido. Ele quer mesmo é oferecer Seus largos ombros para chorarmos a perda de um ente querido. Quer nos abraçar e sorrir conosco ao alcançarmos uma promoção ou passarmos no vestibular. Quer participar de nossa vida e auxiliar na tomada de decisões positivas.

Talvez você queira um pouco mais de tempo para pensar, antes de assumir um compromisso que parece - e de fato é - tão sério; mas como você suportaria mais um minuto sequer completamente perdido numa estrada sem placas, quando o melhor Guia lhe oferece os Seus serviços?

A demora pode custar mais sofrimentos. Compensa se apegar à âncora do orgulho se o barco está afundando?

O maior privilégio de que alguém pode desfrutar é conhecer a vontade de Deus e corresponder a ela. Aliás, quem afirma isso é o próprio Todo-Poderoso:

"Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor" (Jr 9:23, 24).

Agora mesmo você está ouvindo? É a campanhia. As mãos eternas estão batendo palmas. Você escuta Alguém chamando o seu nome de forma amável. Deus quer entrar em sua vida. Seria você capaz de abafar a voz de Quem enfrentou a tortura, o desprezo, a afronta, os maus-tratos e a cruz em seu lugar?

Por que não se render ao Salvador Jesus sem esperar mais?

Outra Leitura - Douglas Reis.


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