Há cada vez mais sujeira por baixo dos jalecos brancos: nunca antes os Estados Unidos, grande potência científica mundial e pioneiro na tentativa de coibir fraudes nos laboratórios, teve tantos problemas com desvios de conduta de pesquisadores. Casos como o de Marc Hauser, biólogo afastado de Harvard há uma semana acusado de distorcer dados em uma pesquisa sobre aprendizado em pequenos macacos, quase triplicaram nos últimos 16 anos. Em 1993, quando o governo federal dos EUA criou uma agência para o assunto, a ORI (Agência para a Integridade em Pesquisa, na sigla em inglês), foram relatadas 86 denúncias de desvios. Em 2009, foram 217, número recorde. O país gastou cerca de US$ 110 milhões investigando esses casos. Historicamente, um terço das investigações resulta em punição - em geral, afastamento de cargos e verbas públicas.
O número foi apresentado pela equipe de Arthur Michalek, biólogo do Instituto Roswell Park (de Nova York), na edição de ontem da revista científica PLoS Medicine. “Humanos são humanos, alguns vão se deixar seduzir e usar certos atalhos em busca do sucesso, por mais antiéticos que eles sejam”, disse à Folha. “A esmagadora maioria dos cientistas são éticos. Infelizmente, trapaças de poucos mancham o trabalho duro do resto de nós.”
Humanos sempre foram humanos, claro, e fraudes existem desde sempre. O homem de Piltdown é citado com frequência como a maior mentira da história da ciência, e o caso é de 1908. Na época, foram apresentados fósseis de um suposto elo perdido entre humanos e primatas. Só em 1953 a fraude foi comprovada: tratava-se, na verdade, de uma mistura deliberada de ossos humanos e de orangotango.
Os números americanos, porém, mostram a má conduta ganhando espaço. Para Sílvio Salinas, 67, físico da USP, a tentação é maior entre as gerações mais novas. “Hoje em dia, há uma enorme pressão, uma grande disputa por posições”, diz. “Mas os bárbaros não tomaram conta da ciência ainda.”
(Folha.com)
Nota: É bom lembrar, também, de casos mais recentes do que o do clássico homem de Piltdown: Microraptor gui, Tiktaalik, o Ardi, etc., etc.
Comentário do jornalista e professor Ruben Dargã Holdorf: “No Brasil não é diferente. Não é preciso sair dois anos para voltar com novas ideias. Basta uma quinzena num país decente, como os Estados Unidos. Melhor ainda se forem dois anos. Há 25 anos, o mestrado tinha a duração mínima de três e a máxima de seis anos. Hoje você é obrigado a defender sua dissertação em apenas dois anos, além de publicar artigos e participar de eventos. No doutorado o ‘clima’ é mais ameno em relação ao tempo. Contudo, você é obrigado, em algumas instituições, a participar de um evento internacional como expositor, publicar três artigos científicos, dois capítulos de livro ou um livro a respeito da temática pesquisada. Não se trata da tese. A tese é outra história. Se o professor-orientador achar que você usa autores com os quais ele não simpatiza pessoalmente, esqueça, porque nenhum deles fará parte de seus artigos, sequer de sua tese, muito menos da banca. O doutorando tem de se embasar em uma teoria já estruturada e formular acréscimos ao já conhecido. Cadê a originalidade do trabalho? Não existe! Aquela camarilha de pensadores do século 19 e alguns do 20 continuam ditando as regras. É absurdo que tenhamos de nos pautar em pensadores "medievais", de um mundo linear, de quem jamais sonhou em viver tempos de sequencialidade paralela. Mas no Brasil não se pode cogitar críticas a ninguém, nem à Capes, à ABNT, às bancas, à arrogância doutoral, à perda de tempo nas aulas dos programas, cujos conteúdos não conduzem ninguém a lugar algum (com raríssimas e boas exceções) e, quando se discutem propostas - outra raridade -, tudo é esquecido no dia seguinte. Então para que serve a ciência e a tal da dialética? Concluo que ela se encontra em nosso meio para alimentar e engordar o ego de quem não teve competência para ter outra atividade na vida. São poucos os que realmente pensam, propõem e realizam, seja na prática, em artigos ou em livros. A maior parte é pura perda de tempo - e que tempo perdido - e afagar de vaidades, discussão de um besteirol sem fim. Poucos professores ousam desafiar os poderes e regras constituídos para fazer ciência. Destaco os doutores Franklin Valverde, Álvaro Cardoso Gomes e José Luiz Aidar Prado. Não há dúvida de que o ensino superior faz toda a diferença na vida do homem contemporâneo (pós-moderno), melhorando o padrão de vida, salários, senso crítico, visão de mundo, expectativa de vida, etc., mas é necessário saber para que servem as ferramentas intelectuais de cada indivíduo e como servir a sociedade do melhor modo possível.”
Criacionismo
O número foi apresentado pela equipe de Arthur Michalek, biólogo do Instituto Roswell Park (de Nova York), na edição de ontem da revista científica PLoS Medicine. “Humanos são humanos, alguns vão se deixar seduzir e usar certos atalhos em busca do sucesso, por mais antiéticos que eles sejam”, disse à Folha. “A esmagadora maioria dos cientistas são éticos. Infelizmente, trapaças de poucos mancham o trabalho duro do resto de nós.”
Humanos sempre foram humanos, claro, e fraudes existem desde sempre. O homem de Piltdown é citado com frequência como a maior mentira da história da ciência, e o caso é de 1908. Na época, foram apresentados fósseis de um suposto elo perdido entre humanos e primatas. Só em 1953 a fraude foi comprovada: tratava-se, na verdade, de uma mistura deliberada de ossos humanos e de orangotango.
Os números americanos, porém, mostram a má conduta ganhando espaço. Para Sílvio Salinas, 67, físico da USP, a tentação é maior entre as gerações mais novas. “Hoje em dia, há uma enorme pressão, uma grande disputa por posições”, diz. “Mas os bárbaros não tomaram conta da ciência ainda.”
(Folha.com)
Nota: É bom lembrar, também, de casos mais recentes do que o do clássico homem de Piltdown: Microraptor gui, Tiktaalik, o Ardi, etc., etc.
Comentário do jornalista e professor Ruben Dargã Holdorf: “No Brasil não é diferente. Não é preciso sair dois anos para voltar com novas ideias. Basta uma quinzena num país decente, como os Estados Unidos. Melhor ainda se forem dois anos. Há 25 anos, o mestrado tinha a duração mínima de três e a máxima de seis anos. Hoje você é obrigado a defender sua dissertação em apenas dois anos, além de publicar artigos e participar de eventos. No doutorado o ‘clima’ é mais ameno em relação ao tempo. Contudo, você é obrigado, em algumas instituições, a participar de um evento internacional como expositor, publicar três artigos científicos, dois capítulos de livro ou um livro a respeito da temática pesquisada. Não se trata da tese. A tese é outra história. Se o professor-orientador achar que você usa autores com os quais ele não simpatiza pessoalmente, esqueça, porque nenhum deles fará parte de seus artigos, sequer de sua tese, muito menos da banca. O doutorando tem de se embasar em uma teoria já estruturada e formular acréscimos ao já conhecido. Cadê a originalidade do trabalho? Não existe! Aquela camarilha de pensadores do século 19 e alguns do 20 continuam ditando as regras. É absurdo que tenhamos de nos pautar em pensadores "medievais", de um mundo linear, de quem jamais sonhou em viver tempos de sequencialidade paralela. Mas no Brasil não se pode cogitar críticas a ninguém, nem à Capes, à ABNT, às bancas, à arrogância doutoral, à perda de tempo nas aulas dos programas, cujos conteúdos não conduzem ninguém a lugar algum (com raríssimas e boas exceções) e, quando se discutem propostas - outra raridade -, tudo é esquecido no dia seguinte. Então para que serve a ciência e a tal da dialética? Concluo que ela se encontra em nosso meio para alimentar e engordar o ego de quem não teve competência para ter outra atividade na vida. São poucos os que realmente pensam, propõem e realizam, seja na prática, em artigos ou em livros. A maior parte é pura perda de tempo - e que tempo perdido - e afagar de vaidades, discussão de um besteirol sem fim. Poucos professores ousam desafiar os poderes e regras constituídos para fazer ciência. Destaco os doutores Franklin Valverde, Álvaro Cardoso Gomes e José Luiz Aidar Prado. Não há dúvida de que o ensino superior faz toda a diferença na vida do homem contemporâneo (pós-moderno), melhorando o padrão de vida, salários, senso crítico, visão de mundo, expectativa de vida, etc., mas é necessário saber para que servem as ferramentas intelectuais de cada indivíduo e como servir a sociedade do melhor modo possível.”
Criacionismo
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